Conselheiro independente da Petrobras pede para retirar a candidatura em assembleia de acionistas

Por: Bruno Rosa
Fonte: O Globo
RIO - A Assembleia Geral Extraordinária da Petrobras começa hoje com
mudanças. Em entrevista ao GLOBO, o advogado e ex-desembargador
Leonardo Antonelli, que era um dos candidatos à reeleição como membro
do Conselho de Administração estatal, revela que pediu para deixar a
disputa. Ele foi indicado pelos acionistas minoritários.
Qual é a razão para o senhor retirar a candidatura?
A Petrobras é um colosso. Algumas das nossas reuniões de Conselho já
ultrapassaram 12 horas ininterruptas. Somente na última semana, dois
itens da pauta envolviam mais de R$ 250 bilhões de reais, como o caso
envolvendo Sépia/Atapu e a venda da RLAM. Para podermos tomar
decisões refletidas, devemos apreciar milhares de páginas de documentos.
Entendo que já dei a minha contribuição para a companhia. Reconheço que
fiquei vencido em muitas matérias, mas, como costumo pontuar, entendo
que essa é uma característica de órgãos colegiados. A divergência
engrandece o debate.
Mas pesou na sua decisão de pedir para sair do Conselho esse imbróglio
envolvendo a interferência de Jair Bolsonaro no comando da empresa?
Não me intimida uma suposta futura intervenção governamental na
companhia. Ao contrário, isso só reafirma a necessidade dos minoritários
terem uma voz ativa, senão jurídica, no Conselho de Administração.
A informação no mercado é que o senhor já havia dito que retiraria a
candidatura, mas até o momento não retirou oficialmente. Vai retirar
oficialmente? Quando comunicará à companhia?
Há 15 dias foi solicitado oficialmente, perante a companhia, a minha
substituição. Todavia como o boletim de voto à distância já havia sido
publicado, a Petrobras, seguindo a legislação, não fez a republicação. Então,
os acionistas que me indicaram optaram, com base na mesma legislação,
por aguardar a Assembleia Geral Extraordinária.
O senhor votou contra 11 dos indicados por controlador e minoritários
para o Conselho de Administração. Há no mercado quem veja conflito em
um conselheiro que disputa a eleição (você no caso) avaliar concorrentes
pela vaga. Como avalia essa situação?
Todos os membros com direito à voto que integram o Comitê de
Elegibilidade da Petrobras são candidatos à recondução. Entendo que a lei
deve valer para todos de igual forma. Então, por coerência, indeferi todos
candidatos que atuem nas concorrentes, sendo irrelevante serem indicados
pelo controlador, pelos minoritários ou pelo próprio acionista que me
indicou. Reconheço que ser independente, para uns pode representar um
ônus. Para a melhor governança da Petrobras, espero que bônus. Mas no
final do dia, conforme manda a lei, caberá aos acionistas deliberarem e, se
for o caso, superarem até mesmo a decisão unânime do Comitê que
declarou Medeiros e Weber inelegíveis por terem prestado serviços à
própria Petrobras e seu conglomerado nos últimos três anos,
desrespeitando a quarentena legal, o que retira, no mínimo, a
independência.
O senhor votou contra pessoas que seriam do grupo de investidores que
o apoiaram na eleição de 2020, caso do banqueiro Juca Abdalla, que se
tornou candidato, e Marcelo Gasparino. Houve um "racha" no grupo?
Gasparino é um candidato que atua em diversos Conselhos de
Administração, inclusive na Vale e sua experiencia será muito positiva para
a empresa. O Juca Abdalla, sendo o maior acionista privado da Petrobras no
mundo, é sinônimo de prestígio para a companhia aceitar se candidatar.
Como ele costuma dizer, é o dono no Conselho. Nesses tempos estranhos
é melhor que se tenha um representante de minoritários que sinta no bolso
qualquer suposta interferência governamental. Qual voz melhor do que a
dele para gritar?